RSS

FILHOS DE DEUS 4

Por: Pr. Messias Santos

SANTDADE

Quarto, e seguindo-se ao que já dissemos, nossa adoção nos mostra o significado e os motivos da santidade evangélica.

Esta expressão — "santidade evangélica" — é sem dúvida alguma pouco conhecida. Era uma expressão puritana para designar a vida cristã autêntica, que brotava do amor e da gratidão a Deus, em contraste com a falsa "santidade legal", que consistia simplesmente em formas, rotinas e aparências externas, mantida por motivos egoístas. Temos aqui apenas duas pequenas observações a fazer sobre a "santidade evangélica". Primeira, o que já dissemos mostra sua essência. Ela é apenas a vida coerente que resulta do relacionamento filial com Deus, ao qual somos levados mediante o Evangelho. Trata-se simplesmente do filho de Deus possuidor dos sinais característicos: fiel a seu Pai, ao seu Salvador e a si mesmo. É a expressão da adoção na vida de alguém. É uma questão de ser bom filho, diferente do filho pródigo, ou filho-problema na família real. Segundo, o relacionamento adotivo, que mostra tão claramente a graça de Deus, proporciona em si mesmo o motivo desta vida autenticamente santa. Os cristãos sabem que Deus "nos predestinou para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo" (Ef 1:5), e que isto envolve sua intenção eterna: "para sermos santos e irrepreensíveis em sua presença" (Ef 1:4). Eles sabem que caminham rumo ao dia em que este destino será total e finalmente realizado: "sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; pois o veremos como ele é" (lJo 3:2).

O que resulta de tal conhecimento? O resultado é que "Todo aquele que nele tem esta esperança purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro" (v. 3). Os filhos sabem que o Pai deseja sua santidade e que ela é o meio, a condição e a razão de sua felicidade aqui e no futuro. Por causa do amor que têm ao Pai procuram efetivamente o cumprimento deste propósito benéfico. A disciplina pa-ternal exercida pelas pressões e dificuldades externas ajuda o processo. O cristão, ainda que atolado em dificuldades, pode sentir-se confortado por saber que no plano de Deus isso tudo tem um propósito positivo: promover sua santificação.

Neste mundo os príncipes precisam se submeter à disciplina e ao treinamento extra, dos quais as outras crianças estão livres, a fim de prepará-los para seu destino. O mesmo acontece com os filhos do Rei dos reis. A chave para entender o procedimento divino em relação a eles é lembrar que, durante o transcurso de sua vida, Deus os está treinando para o que espera deles e esculpindo-os para alcançar a imagem de Cristo. Às vezes esse processo é doloroso e a disciplina, cansativa, mas aí as Escrituras nos lembram que "... o Senhor disciplina a quem ama, e castiga todo aquele a quem aceita como filho. Suportem as dificuldades, recebendo-as como disciplina; Deus os trata como filhos [...] Nenhuma disciplina parece ser motivo de alegria no momento, mas sim de tristeza. Mais tarde, porém, produz fruto de justiça e paz..." (Hb 12:6,7,11).

Só a pessoa que compreende isso pode experimentar o que diz Romanos 8:28 (ra): "Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus"; igualmente, só ele pode manter a segurança da filiação contra os assaltos satânicos, quando as coisas não vão bem. Quem domina a verdade da adoção, no entanto, retém a segurança e recebe as bênçãos no dia da dificuldade: este é um aspecto da vitória da fé sobre o mundo. Entretanto, um ponto se destaca: o motivo principal para a vida santa do cristão não é negativo, mas positivo: o impulso de demonstrar seu amor e gratidão pelo Pai adotivo, identificando-se com a vontade paterna em todos os aspectos de sua vida. Isto esclarece ao mesmo tempo a questão do lugar da lei de Deus na vida cristã. Muitas pessoas acham difícil perceber o papel que ela exerce sobre o cristão. Estamos livres da lei, dizem, nossa salvação não depende do fato de mantê-la, somos justificados pelo sangue e pela justiça de Jesus Cristo. Que importância ou que diferença faz se de agora em diante guardamos a lei ou não? Já que a justificação significa perdão de todos os pecados passados, presentes e futuros, e ainda a completa aceitação por toda a eternidade, por que devemos nos preocupar se pecamos ou não? Por que devemos pensar que Deus se preocupa com isso? Não demonstra um entendimento errôneo da justificação o fato de o cristão relacionar seus pecados diários e passar tempo se lamentando por eles e buscar perdão? A recusa em buscar instrução na lei, ou se preocupar com os erros diários, não será parte da verdadeira ousadia da justificação pela fé? Os puritanos tiveram de enfrentar estas idéias antinomistas e às vezes sentiram dificuldades em respondê-las. Se alguém crê que a justificação é o princípio e o fim do dom da salvação, terá sempre dificuldades para responder a esses argumentos. A verdade é que essas idéias devem ser respondidas não nos termos da justificação, mas da adoção. Uma vez que se faça a distinção entre estes dois elementos no dom da salvação, a resposta correta se torna clara. Qual é essa resposta? É esta: embora seja realmente verdade que a justificação nos liberta para sempre da necessidade de guardar a lei, ou de qualquer tentativa de fazê-lo como meio de merecer a vida, é igualmente verdade que a adoção impõe o dever permanente de guardar a lei como meio de agradar ao Pai recêm-encontrado. Guardar a lei é a semelhança existente entre os filhos de Deus; Jesus cumpriu toda a justiça e Deus nos chama a fazer o mesmo. A adoção coloca a obediência à lei sob novo prisma. Como filhos de Deus reconhecemos a autoridade da lei como regra para a vida porque sabemos ser este o desejo de nosso Pai. Se pecamos, confessamos-lhes nossas faltas e lhe pedimos perdão, baseados na relação familiar, como Jesus nos ensinou: "Pai! [...] Perdoa-nos os nossos pecados". Os pecados dos filhos de Deus não destroem sua justificação nem anulam sua adoção, mas arruinam a comunhão entre os filhos e seu Pai. "Sejam santos porque eu sou santo", são as palavras do Pai para nós, e não é parte da justificação pela fé perder de vista o fato de que Deus, o Rei, quer que seus filhos reais vivam de modo a honrar sua paternidade e posição.

Segurança

Quinto, nossa adoção fornece o indício necessário para resolver o problema da segurança.

Aqui temos uma questão difícil! Este tópico está em constante disputa na Igreja desde a Reforma. Os reformadores, Lutero em particular, costumavam fazer distinção entre "fé histórica" — que Tyndale15 denominou "fé na história", isto é, a crença nos fatos relatados pelo cristianismo sem resposta nem compromisso — e a verdadeira fé salvadora. A última, diziam, é essencialmente segurança. Eles a denominavam fiducia, "confiança" — primeiro na verdade da promessa do perdão divino e na vida para os pecadores que se tornaram crentes; e, segundo, a auto-aplicação como crentes. William Tyndale (1494-1536) foi um dos primeiros reformadores ingleses cujo principal objetivo era colocar a Bíblia na mente e no coração do povo. Cria que a confusão sobre os ensinamentos eclesiásticos originava-se da ignorância bíblica. Fugiu da Inglaterra para a Alemanha a fim de traduzir o Novo Testamento (e a maior parte do Antigo Testamento). Posteriormente, foi seqüestrado em Antuérpia e executado por seu trabalho de tradução da Bíblia. "A fé", declarou Lutero, "é a confiança deliberada e viva na graça de Deus, tão certa que por ela alguém podia morrer mil mortes, e tal confiança [...] torna-nos alegres, intrépidos e contentes diante de Deus e de toda a criação". E ele ataca "a perniciosa doutrina dos papistas que ensinam que nenhum homem sabe com certeza se está ou não desfrutando do favor de Deus; deste modo eles desfiguram completamente a doutrina da fé, atormentam a consciência dos homens, banem Cristo da Igreja e negam todos os benefícios do Espírito Santo". Ao mesmo tempo, os reformadores reconheciam que fiducia, a certeza da fé, podia existir em alguém que sob a prova da tentação sentia-se seguro de sua inexistência nele, deixando-o sem esperança em Deus. (Se isto soa paradoxal, seja grato por não ter sido nunca exposto ao tipo de tentação que assim transforma o estado de sua alma, como era na ocasião o estado de Lutero e de muitos mais.)

Os católicos romanos não compreendiam isto. Como resposta aos reformadores reafirmavam o conceito medieval: apesar de a fé ansiar pelo céu, não tem certeza de chegar lá, e afirmá-la seria presunção. Os puritanos do século seguinte destacaram a idéia de que o essencial na fé não é a certeza da salvação, quer no presente ou no futuro, mas o arrependimento e a entrega a Jesus Cristo. Muitas vezes referiam-se à segurança como se fosse distinta da fé; o crente não a experimentaria normalmente a não ser que a buscasse de modo específico. Wesley, no século xviii, fazia eco à insistência de Lutero de que o testemunho do Espírito e a segurança resultante são parte da essência da fé, embora mais tarde ele tenha qualificado isto fazendo distinção entre a fé possuída pelo servo, da qual não faz parte a segurança, e a fé que existe no filho, que está de posse dela. Parece que ele ainda pensava em sua fé antes da experiência de Aldersgate Street como se fosse a de um servo — alguém nos limites da experiência cristã total, buscando a salvação e procurando conhecer o Senhor, mas ainda sem a certeza de sua situação na graça. Como todos os luteranos depois dele, embora não como o próprio Lutero, Wesley sustentou, porém, que a certeza se refere apenas à presente aceitação por Deus e que não pode haver certeza de constância.

O debate se mantém aceso entre os evangélicos e continua a provocar confusão. O que é segurança? E a quem Deus dá garantia? A todos os crentes, a alguns ou a nenhum? Quando ele garante, de que nos protege? Como ela é concedida? A confusão é grande, mas a verdade da adoção pode nos ajudar a desfazê-la.

Se Deus, por amor, fez dos cristãos seus filhos e se ele é Pai perfeito, duas coisas parecem surgir a respeito do assunto. Primeira, o relacionamento familiar deve ser duradouro, existindo para sempre. Pais perfeitos não desprezam seus filhos. Os cristãos podem agir como o filho rebelde, mas Deus não deixa de agir como o pai perdoador.

Segunda, Deus fará de tudo para que seus filhos sintam seu amor por eles, conheçam seus privilégios e sua segurança como membros da família. Crianças adotadas precisam da segurança devida, e pais perfeitos não deixarão de dá-la.

Em Romanos 8, a passagem clássica sobre a segurança no Novo Testamento, Paulo confirma os dois pontos. Primeiro, ele nos fala daqueles a quem Deus "predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos". Em outras palavras, aqueles a quem Deus resolveu tomar eternamente como filhos em sua família, junto com seu Unigênito, "ele chamou [...] justificou [...] glorificou" (Rm 8:29,30). "Glorificou", notamos, está no tempo passado, embora o fato em si mesmo seja no futuro; isto mostra que na mente de Paulo a situação é tão certa como se já tivesse acontecido, tendo sido fixada por decreto de Deus. Assim, Paulo mostra confiança ao declarar nos versículos 38 e 39:

Pois estou convencido de que nem morte nem vida, nem anjos nem demônios, nem o presente nem o futuro, nem quaisquer poderes, nem altura nem profundidade, nem qualquer outra coisa na criação será capaz de nos separar do amor de Deus [o amor paternal, livre e redentor divino] que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.

Segundo, Paulo nos fala que aqui e agora "o próprio Espírito testemunha ao nosso espírito que somos filhos de Deus. Se somos filhos, então somos herdeiros" (v. 16,17). A afirmação é inclusiva, pois, embora Paulo nunca se tivesse encontrado com os romanos, sentia-se capaz de assegurar que, se eles eram cristãos, então conheciam este testemunho íntimo do Espírito à sua feliz situação de filhos e herdeiros de Deus. Bem disse certa vez James Denney que enquanto a segurança é pecado no romanismo, para a maioria das denominações protestantes é um dever. No Novo Testamento ela é simplesmente um fato.

Notamos que neste versículo o testemunho de nossa adoção surge de duas fontes distintas: nosso espírito (isto é, nosso "eu" consciente) e o Espírito de

Deus, que testemunha com o nosso espírito e ao nosso espírito.

Qual é a natureza deste duplo testemunho? A análise de Robert Hal-dane, que refina a essência de mais de dois séculos de exposição evangélica, dificilmente poderá ser melhorada. "O testemunho de nosso espírito", ele escreve, "torna-se uma realidade quando o Espírito Santo nos possibilita determinar nossa filiação pela consciência e descoberta em nós mesmos das verdadeiras marcas de um estado renovado". Isto é segurança inferencial, uma conclusão tirada do fato de que conhecemos o Evangelho, confiamos em Cristo, produzimos obras de arrependimento e manifestamos os instintos do ser humano regenerado.

Continua Haldane:

Mas dizer que este é o significado pleno do testemunho do Espírito Santo seria ficar muito aquém da afirmação do texto; porque neste caso o Espírito apenas ajudaria a consciência a ser testemunha, mas não poderia dizer que ele mesmo é um testemunho [...] O Espírito Santo testifica ao nosso espírito em um testemunho imediato e distinto, e também com nosso espírito em um testemunho harmonioso. Esse testemunho, embora não possa ser explicado, é sem dúvida alguma sentido pelo crente; é sentido por ele também em suas variações, às vezes mais fortes e palpáveis e outras fracas e menos distintas [...] Sua realidade é indicada nas Escrituras por expressões como as do Pai e do Filho vindo até nós, permanecendo conosco — Cristo se manifestando a nós, comendo conosco — dando-nos o maná escondido, e a pedra branca, comunicando-nos o conhecimento da quitação de culpa e escrevendo um novo nome, que ninguém conhece a não ser aquele que o recebeu. "O amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".

Esta é a segurança imediata, a ação direta do Espírito no coração regenerado, vindo para suplementar o testemunho de nosso espírito induzido por Deus (isto é, de nossa consciência e reconhecimento como crentes). Embora este duplo testemunho possa ser temporariamente obscurecido pelo afastamento de Deus e pelo assalto satânico, todo cristão verdadeiro que não esteja magoando e extinguindo o Espírito pela infidelidade normalmente desfruta dos dois tipos de testemunho, de modo mais ou menos intenso, como experiência permanente; como o verbo no tempo presente ("testemunha ao nosso espírito") usado por Paulo torna bem claro.

Assim, esta é a realidade sobre a segurança: nosso Pai celestial quer que seus filhos saibam de seu amor por eles e da segurança que têm em família. Ele não seria Pai perfeito se não quisesse isso e se não agisse para concretizá-lo. Sua ação se manifesta fazendo que o duplo testemunho, já descrito, seja parte da experiência normal de seus filhos. Assim ele os leva ao júblio no seu amor. O testemunho é em si mesmo um dom — o elemento mais alto do complexo dom da fé, pelo qual os crentes obtêm o "conhecimento" de que a fé, a adoção, a esperança do céu e o infinito e soberano amor de Deus para com eles são "reais".

Sobre a dimensão desta experiência da fé, pode-se usar a expressão do sr. Squeers ao referir-se à "natureza": é "mais facilmente concebida que descrita"; entretanto todos os cristãos normalmente se beneficiam dela em maior ou menor escala, pois, na verdade, ela faz parte de seu direito de nascença. Sempre inclinados ao auto-engano, faremos bem em testar nossa segurança aplicando o critério ético e doutrinário que lJoão apresenta justamente com este propósito (v. lJo 2:3,29; 3:6-10,14,18-21; 4:7,8, 15; 5:1-4,18). Assim, o elemento conclusivo de nossa segurança será fortalecido, e a certeza como um todo será grandemente expandida.

A fonte da segurança, entretanto, não está em nossas deduções, mas na obra do Espírito, tanto à parte como por meio de nossas conclusões, convencendo-nos de sermos filhos de Deus e de que o amor salvador e as promessas divinas se aplicam diretamente a nós.

Que dizer então das disputas históricas? Os romanistas estavam errados. Vista à luz da adoção e da paternidade divina, sua negativa tanto da preservação como da segurança torna-se uma monstruosidade ridícula. Que tipo de pai é este que nunca diz a seus filhos que os ama, mas que ameaça expulsá-los da família se não se comportarem? A negativa dos wesleyanos e luteranos a respeito da preservação é um erro semelhante. Deus é um pai melhor que o apresentado por essa negativa. Ele guarda seus filhos na fé e na graça e não os deixa escapar da mão.

Os reformadores e Wesley estavam certos ao dizer que a segurança é essencial à fé. Os puritanos, entretanto, estavam certos também ao dar mais ênfase que os outros ao fato de que o cristão que magoa o Espírito pelo pecado e deixa de buscar a Deus de todo o coração deve esperar a perda da plena fruição do dom maior do duplo testemunho, como a criança descuidada e malcriada provoca a carranca de seus pais em lugar dos habituais sorrisos. Alguns presentes são preciosos demais para serem dados a crianças descuidadas e desobedientes, e este é um presente que o Pai celestial negará, pelo menos por algum tempo, se nos vir em uma condição em que ele nos prejudicará ao fazer-nos pensar que nosso Pai não se importa se vivemos de maneira santa ou não.

O GRANDE SEGREDO

É estranho que a verdade da adoção tenha sido pouco apreciada na história cristã. Além de dois livros do século XIX, pouco conhecidos hoje (Robert Smith Candlish, The fatherhood of God; Robert Alexander Webb, The reformed doctrine of'adoption), não há mais títulos sobre o assunto nem houve mais deles desde a Reforma do que havia antes dela.

A compreensão de Lutero sobre a adoção foi tão forte e clara como a da justificação, mas seus discípulos se apegaram à última e nada fizeram sobre a primeira. Os ensinamentos dos puritanos sobre a vida cristã, tão fortes em outros assuntos, foram notavelmente deficientes neste ponto. Esta foi uma das razões para o surgimento de interpretações legalistas errôneas a esse respeito. Talvez os primeiros metodistas, e mais tarde outros santos metodistas, como Billy Bray, o filho do Rei, com seu inesquecível modo de se referir à oração: "Preciso falar ao Pai sobre isto", chegaram mais perto da vida filial descrita no Novo Testamento. Há certamente muito mais para dizer sobre a adoção nos dias de hoje.

Entretanto, de tudo o que estudamos neste capítulo, a mensagem imediata ao coração é certamente esta: Eu, como cristão, entendo a mim mesmo? Conheço minha identidade real? Meu destino real? Sou filho de Deus. Deus é meu Pai. O céu é meu lar. Cada dia estou mais perto dele. Meu Salvador é meu irmão. Cada cristão é meu irmão também. Diga isso muitas vezes a si mesmo: a primeira coisa de manhã e a última à noite, enquanto espera pelo ônibus e sempre que a mente estiver livre. Peça que você possa viver como quem sabe que tudo isso é total e completamente verdadeiro. É este o segredo cristão para a vida feliz? Sim, com toda a certeza; mas nós temos alguma coisa maior e mais profunda a dizer. Este é o segredo do cristão para uma vida cristã que honra a Deus, e estes são os aspectos da situação realmente importantes. Desejo que este segredo se torne totalmente seu e meu também.

Para nos ajudar a ver mais adequadamente quem e o que somos como filhos de Deus, e para que fomos chamados, aqui estão algumas perguntas mediante as quais faremos bem em nos examinar freqüentemente.

Entendo minha adoção? Dou a ela o valor devido? Lembro-me diariamente meus privilégios como filho de Deus?

Busco a segurança de minha adoção? Sinto diariamente o amor de Deus por mim?

Trato Deus como meu Pai celestial amando-o, obedecendo-lhe e honrando-o, buscando e recebendo sua amizade, e tentando em tudo agradá-lo, como um pai gostaria que seu filho fizesse?

Penso em Jesus Cristo, meu Salvador e Senhor, como meu irmão, dispensando a mim não apenas a autoridade divina, mas também simpatia divina e humana?

Penso diariamente em como ele está perto de mim, como ele me compreende tão completamente e quanto, sendo meu remidor, ele se interessa por mim?

Aprendi a odiar o que desagrada a meu Pai? Sou sensível às coisas erradas às quais ele também é sensível? Empenho-me em evitá-las para não magoá-lo?

Aguardo ansioso o dia futuro quando a grande família dos filhos de Deus se reunirá finalmente no céu diante do trono de Deus, seu Pai, e do Cordeiro, seu irmão e Senhor? Tenho sentido a emoção dessa esperança?

Amo meus irmãos cristãos com os quais convivo de tal modo que não ficarei envergonhado quando no céu eu me lembrar de meus dias?

Tenho orgulho de meu Pai, e de sua família à qual, por sua graça, pertenço?

A semelhança dessa família é visível em mim? Se não for, por quê?

Deus nos humilha, Deus nos instrui, Deus nos faz seus filhos verdadeiros.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

O QUE NOSSA ADOÇÃO NOS MOSTRA

Por: Pr. Messias Santos

A idéia de propiciação aparece textualmente apenas quatro vezes no Novo Testamento, e nem por isso é menos importante, constituindo, na realidade, o núcleo e o ponto focai de todo o conceito da obra salvífica de Cristo no Novo Testamento. A palavra adoção (em grego significa "estabelecer como filho") aparece apenas cinco vezes, e nessas ocasiões só três se referem à presente relação dos cristãos com Deus em Cristo Jesus (Rm 8:15; Gl 4:5; Ef 1:5). Entretanto, este pensamento é o centro, o ponto focai de todos os ensinamentos do Novo Testamento sobre a vida cristã. Estes dois conceitos, na verdade, estão juntos. Se me pedissem que centralizasse a mensagem do Novo Testamento em três palavras, minha sugestão seria esta: adoção mediante propiciação, e não espero encontrar outra síntese do Evangelho mais rica e mais abundante que essa.

Não é apenas nos quatro evangelhos que a idéia de nossa filiação concedida por Deus é estabelecida como "nosso direito à fonte", como dizia John Owen, dominando o pensamento e a vida. As epístolas também estão repletas dela. Extrairemos nossas evidências principalmente das epístolas, à medida que avançamos para mostrar que a realidade de nossa adoção nos dá discernimento mais profunda permitido pelo Novo Testamento a respeito de mais cinco assuntos: primeiro, a grandeza do amor divino; segundo, a glória da esperança cristã; terceiro, o ministério do Espírito Santo; quarto, o significado do que os puritanos denominavam "santidade evangélica"e por quê; quinto, a questão da segurança do crente.

O AMOR DIVINO

Em primeiro lugar, então, nossa adoção nos mostra a grandeza da graça de Deus.

O Novo Testamento nos fornece duas medidas para avaliar o amor divino. A primeira é a cruz (v. Rm 5:8; lJo 4:8-10); a segunda é o dom da filiação. "Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus" (lJo 3:1). Entre todos os dons da graça, a adoção é o maior. O dom do perdão dos atos passados é grande, por isso saber que...

Carregando vergonha e grosseria escarnecedora,

Em meu lugar condenado ele permaneceu,

Selou meu perdão com seu sangue

... é uma fonte infinita de alegria e encantamento.

Resgatado, curado, restaurado, perdoado,

Quem, como eu, seu louvor cantará?

Assim também, o dom da imunidade e da aceitação, agora e na eternidade, é grande, uma vez você torne para si as palavras de Charles Wesley sobre Romanos 8:

Não temo agora qualquer condenação,

Jesus, e tudo nele, é meu;

Vivificado nele, meu Senhor vivo,

E vestido da justiça divina,

Com ousadia me aproximo do trono eterno

E reivindico a coroa, por meio de meu Cristo.

Nosso espírito adquire asas e voa, como alguns que lêem este capítulo com certeza o sabem. Quando, porém, você se conscientiza de que Deus o tirou, por assim dizer, da sarjeta e o constituiu filho em sua casa — você, um transgressor, culpado, ingrato, hostil, perverso, mas agora milagrosamente perdoado —, sua consciência do amor de Deus "que excede todo o entendimento" se faz maior que tudo o que suas palavras possam expressar. Você também perguntará como Charles Wesley:

Oh, como eu a bondade contarei,

Que tu, ó Pai, me tens mostrado?

Eu, um filho da ira e do inferno,

Possa ser chamado de filho de Deus.

No entanto, você, como ele, talvez não se sinta capaz de responder adequadamente.

No mundo antigo, a adoção em geral se restringia a pessoas ricas sem filhos. O objeto dela, como já dissemos, não era normalmente uma criança de pouca idade, como acontece hoje, mas sim jovens que se mostrassem dispostos a transmitir o nome de família de maneira honrosa e fossem capazes de fazê-lo. Nesse caso, entretanto, Deus nos adotou por amor, não porque nosso caráter e nossas ações tenham nos mostrado dignos de portar seu nome. Ele o fez apesar de demonstrarmos justamente o contrário. Não estamos aptos a ocupar um lugar na família de Deus; a idéia de que ele ama e exalta os pecadores como ama e exalta o Senhor Jesus soa cômica e fantástica — entretanto, isso, e nada menos que isso, é o significado de nossa adoção.

A adoção, pela própria natureza, é um ato de bondade desinteressada em favor da pessoa adotada. Se você se tornar pai mediante a adoção, o fará por escolha, não por obrigação. Do mesmo modo Deus nos adota; porque resolveu fazê-lo. Ele não foi obrigado. Não precisava fazer nada a respeito de nossos pecados a não ser castigar-nos como merecemos. Entretanto ele nos amou, redimiu, perdoou, tornou-nos seus filhos e se entregou a nós como nosso Pai.

A graça de Deus, porém, não pára nesse ato inicial, como o amor dos pais adotivos não cessa quando o processo legal é completado e a criança passa a ser deles. O estabelecimento do status da criança como membro da família é apenas o princípio. A tarefa real permanece: estabelecer um relacionamento verdadeiramente filial entre você e a criança adotada. É isso, acima de tudo o que você deseja ver; assim, se esforça para conquistar o amor da criança mediante seu amor por ela. Você procura despertar a afeição oferecendo afeição.

O mesmo acontece com Deus, durante toda a nossa vida neste mundo e por toda a eternidade. Ele estará constantemente demonstrando, de um modo ou de outro, mais e mais seu amor, e assim, aumentando nosso amor por ele. A perspectiva apresentada aos filhos adotivos de Deus é a eternidade de amor.

Conheci uma família na qual o filho mais velho foi adotado em uma época em que seus pais pensavam não poder ter filhos. Quando, mais tarde, seus filhos nasceram, eles transferiram toda a afeição para eles, e o mais velho, adotivo, foi ignorado. Era doloroso ver aquilo e, a julgar pela expressão facial do filho mais velho, tratava-se de uma experiência muito triste. O casal em questão falhou totalmente no desempenho de seu papel.

Na família de Deus, porém, as coisas não são assim. Como o filho rebelde da parábola de Jesus, é possível que não consigamos dizer nada além destas palavras: "Pai, pequei [...] Não sou mais digno de ser chamado teu filho; trata-me como um de teus empregados" (Lc 15:18,19). Deus, no entanto, nos recebe como filhos e nos ama com a mesma afeição duradoura com a qual ele ama eternamente seu querido primogênito. Não há diferentes graus de afeição na família divina. Somos amados tão completamente quanto Jesus. Parece um conto de fadas — o monarca adota crianças abandonadas e perdidas da sociedade e as transforma em príncipes. Entretanto, louvado seja Deus, não se trata de ficção, e sim de um fato sólido, fundamentado na rocha da graça livre e soberana.

Isto e nada menos que isto é o significado da adoção. Não é de admirar que João exclame: "Vejam como é grande o amor!". Quando você entender realmente a adoção, seu coração se expressará do mesmo modo.

Isso, porém, não é tudo.

Esperança

Segundo, nossa adoção nos mostra a glória da esperança cristã.

O cristianismo do Novo Testamento é a religião da esperança, a fé que anseia pelo futuro. Para o cristão, o melhor ainda está por vir. Como poderemos, no entanto, fazer idéia do que nos espera no fim da estrada? Aqui também a doutrina da adoção vem em nosso auxílio. Para começar, ela nos ensina a pensar sobre a esperança não como possibilidade, nem como probabilidade, mas como certeza, porque é uma promessa relativa à herança.

No primeiro século, a adoção ocorria especificamente para constituir um her-

deiro para quem deixar a herança. A adoção divina também nos faz seus herdeiros, garantindo, portanto, o direito (podemos dizer) à herança guardada para nós: "... somos filhos de Deus. Se somos filhos, então somos herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo..." (Rm 8:16,17). "Assim, você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro" (Gl 4:7). A riqueza de nosso Pai é incomen-surável, e vamos herdá-la inteiramente.

Em seguida, a doutrina da adoção nos diz que a soma e a substância da herança prometida é a participação na glória de Cristo. Seremos semelhantes em todos os aspectos a nosso irmão mais velho. O pecado e a mortalidade, a dupla corrupção das boas obras de Deus tanto na esfera moral como na espiritual, serão coisas do passado. "... co-herdeiros com Cristo [...] para que também participemos de sua glória" (Rm 8:17). "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser, mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é" (lJo 3:2).

Esta semelhança se estenderá ao aspecto físico, bem como à mente e ao caráter. Na verdade Romanos 8:23 fala da concessão física como a própria adoção, usando claramente a palavra que significa a transmissão da herança, motivo de nossa adoção: "... nós mesmos, que temos os primeiros frutos do Espírito, gememos interiormente, esperando ansiosamente nossa adoção como filhos, a redenção do nosso corpo". A bênção do dia da ressurreição tornará real para nós tudo o que estava implícito no relacionamento da adoção, pois nos levará à plena experiência da vida celestial já desfrutada por nosso irmão mais velho.

Paulo se refere ao esplendor desse acontecimento assegurando-nos que toda a criação, mesmo indistintamente neste momento, espera e deseja "... que os filhos de Deus sejam revelados [...] a própria natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra, recebendo a gloriosa liberdade dos filhos de Deus" (Rm 8:19, 21). Seja qual for o significado dessa passagem (lembremo-nos de que não foi escrita para satisfazer a curiosidade natural do cientista), ela claramente destaca a suprema grandeza do que nos espera no plano divino perfeito.

Quando pensamos em Jesus exaltado na glória, na plenitude da alegria para a qual ele suportou a cruz (um fato sobre o que os cristãos devem pensar constantemente), devemos sempre lembrar que todas suas posses serão um dia repartidas conosco, pois nossa herança não é menor que a dele; estamos entre os "muitos filhos" que Deus levará à glória (Hb 2:10), e sua promessa para nós, e sua obra em nós, não falharão.

Finalmente, a doutrina da adoção nos fala que a experiência no céu será uma reunião familiar, quando a grande multidão dos remidos se encontrará face a face com seu Pai-Deus e Jesus, seu irmão. Esta é a idéia mais clara e profunda do céu que a Bíblia nos dá. Muitas passagens das Escrituras mostram isso: "Pai, quero que os que me deste estejam comigo onde eu estou e vejam a minha glória" (Jo 17:24); "Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus" (Mt 5:8); "o veremos como ele é" (1Jo 3:2); "então, contemplarão a sua face" (Ap 22:4); "então veremos face a face" (1Co 13:12); "E assim estaremos com o Senhor para sempre" (1Ts 4:17).

Será como o dia em que uma criança doente deixa finalmente o hospital e encontra o pai e toda a família esperando na porta para recebê-la — um acontecimento realmente familiar. Ao atravessar as águas do Jordão, Fiel, personagem do livro O peregrino, de Bunyan, diz:

Eu me vejo agora no fim da minha jornada, meus dias de tribulação acabaram. A idéia daquilo para que vou e a conduta que me espera no outro lado parecem uma brasa ardente no meu coração... Eu vivia de ouvir dizer e pela fé, mas agora vou para onde viverei pelo que meus olhos virem e estarei com ele, em cuja companhia me deleito.

O que faz que o céu seja céu é a presença de Jesus e a do Pai divino reconciliado, que nos ama por causa de Jesus tanto e com a mesma intensidade que ao próprio Filho. Ver, conhecer e amar o Pai e o Filho e ser amado por eles, na companhia de toda a vasta família de Deus, é a essência da esperança cristã. Como disse Richard Baxter em sua expressão poética da aliança com Deus, apoiada "com boa disposição" por sua noiva no dia 10 de abril de 1660:

Meu conhecimento da vida é diminuto,

O olho da fé está turvado,

Mas é suficiente que Cristo saiba tudo;

E que eu estarei a seu lado.

Se você for cristão e, portanto, filho de Deus, esta perspectiva o satisfará completamente; se não a considerar satisfatória, provavelmente você ainda não seja nem uma coisa, nem outra.

O Espírito

Terceiro, nossa adoção nos dá a chave do entendimento do ministério do Espírito Santo.

Os cristãos de hoje enfrentam muitas armadilhas e perplexidades a respeito do ministério do Espírito Santo. O problema não está em encontrar o título correto, mas em saber qual é a experiência correspondente à obra de Deus referente ao título. Portanto, sabemos pelas Escrituras que o Espírito ensina o que vai na mente de Deus e glorifica o Filho de Deus; que ele é o agente do novo nascimento dando-nos compreensão para conhecer a Deus e também o novo coração para obedecer-lhe. Sabemos ainda que ele habita nos cristãos, santifica-os e fortalece-os para a peregrinação diária. Segurança, alegria, paz e poder são seus dons especiais. Todavia, muitos reclamam, confusos, que estas afirmações são para eles simples fórmulas, não correspondendo a nada que reconheçam em sua vida.

Naturalmente, tais cristãos se sentem perdendo algo vital e perguntam ansiosamente como poderão preencher o vazio entre a imagem de vida no Espírito apresentada pelo Novo Testamento e seu sentimento de aridez na experiência diária. Então, talvez em desespero, resolvem empreender por si mesmos a busca de um acontecimento psíquico transformador pelo qual possam sentir que a "barreira da falta de espiritualidade" pessoal foi rompida para sempre. O acontecimento pode ser denominado "experiência de Keswick", "rendição total", "batismo do Espírito Santo", "santificação total", "selamento com o Espírito", dom de línguas, a "segunda conversão" (se formos guiados por uma estrela católica em vez de protestante) ou a oração silenciosa ou em conjunto.

Entretanto, se alguma coisa acontecer, e eles se sentirem capazes de identificá-la com o que estavam procurando, logo descobrem que a "barreira da falta de espiritualidade" não foi afinal rompida e assim mudam ansiosos para alguma coisa nova. Muitos hoje são apanhados nessa confusão. Perguntamos: que ajuda pode ser oferecida a essas pessoas? A luz derramada pela verdade da adoção sobre o ministério do Espírito fornece a resposta.

A causa de problemas como os descritos é um tipo de sobrenaturalis-mo falso e mágico que leva as pessoas a ansiar pelo toque transformador, como o de uma força elétrica impessoal, que as libertará completamente de todos os fardos e cadeias da vivência consigo e com os outros. Elas crêem ser esta a essência da verdadeira experiência espiritual. Pensam que a obra do Espírito é dar-lhes experiências como as viagens de lsd (que prejuízo causam os evangelistas quando prometem isto e os viciados equiparam suas fantasias a experiências religiosas! Será que nunca aprenderemos a fazer distinção entre coisas diferentes?).

O fato, porém, é que esta busca por uma explosão interior em lugar de comunhão íntima mostra a profunda incompreensão do ministério do Espírito. A verdade vital a ser aprendida é que o Espírito foi dado aos cristãos como o "Espírito que adota", e é assim que ele age em todo esse seu ministério. Por isso, sua tarefa e seu propósito é levar os cristãos a pensar com clareza cada vez maior no significado de seu relacionamento filial com Deus em Cristo e a reagir cada vez mais profundamente com relação a Deus. Paulo destaca essa verdade ao escrever: "[vocês] receberam o Espírito que os adota como filhos, por meio do qual clamamos 'Aba, Pai'" (Rm 8:15); "Deus enviou o Espírito de seu Filho ao coração de vocês, e ele clama: 'Aba, Pai'" (Gl 4:6).

Assim como a adoção em si mesma é o pensamento-chave para desvendar a idéia da vida cristã no Novo Testamento e o ponto focai para unificá-la, o reconhecimento de que o Espírito vem a nós como o Espírito que adota é a idéia-chave para desvendar tudo o que o Novo Testamento nos fala sobre seu ministério junto aos cristãos.

Partindo dessa idéia central, vemos que sua obra apresenta três aspectos. Em primeiro lugar, ele nos torna e nos mantém conscientes — às vezes mais claramente, mas sempre, de algum modo, conscientes, mesmo quando a parte maldosa que há em nós nos leva a negar tal consciência — de que somos filhos de Deus pela espontânea graça, por meio de Jesus Cristo. Esta é sua tarefa de prover fé, segurança e alegria.

Em segundo lugar, ele nos leva a olhar para Deus como Pai, mostrando para com ele respeitosa ousadia e confiança ilimitada, como é natural em filhos seguros do amor paterno. Esta é sua tarefa de nos fazer clamar "Aba, Pai" — a atitude descrita é a expressa pelo clamor.

Em terceiro lugar, ele nos impele a agir de acordo com nossa posição de filhos reais pela manifestação da semelhança familiar (isto é, de conformidade com Cristo), pela promoção do bem-estar da família (isto é, amando aos irmãos) e pela manutenção de sua honra (buscando a glória de Deus). Esta é sua obra de santificação. Por meio deste aumento progressivo da consciência e do caráter filial, no esforço de procurar o que Deus ama, evitando o que ele odeia "Somos transformados em sua própria imagem com um esplendor cada vez maior, e essa é a obra do Senhor, que é o Espírito" (2Co 3:18; cph).

Portanto, não é quando nos esforçamos na busca de sensações e experiências de qualquer sorte, mas quando buscamos a Deus, olhando para ele como nosso Pai, valorizando sua amizade e descobrindo em nós a preocupação cada vez maior em conhecê-lo e agradá-lo, que a realidade do ministério do Espírito se torna visível em nossa vida. Esta é a verdade necessária que pode nos tirar do pântano das suposições não-espirituais sobre o Espírito, no qual tantos estão se debatendo hoje em dia.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS

FILHOS DE DEUS 2

Por: Pr. Messias Santos

Adoção: o maior privilégio

O primeiro ponto sobre a adoção: ela é o mais alto privilégio que o Evangelho oferece, maior ainda que a justificação. Esta afirmação pode causar dúvidas, pois a justificação é o dom de Deus ao qual, desde Lutero, os evangelistas têm dado grande ênfase. Estamos, portanto, acostumados a dizer quase sem pensar que a justificação gratuita é a suprema bênção de Deus para nós, pecadores. Não obstante, um estudo cuidadoso nos mostrará a verdade da afirmação que acabamos de fazer.

Não está em discussão aqui o fato de que a justificação — pela qual pretendemos o perdão de Deus pelo passado junto com sua aceitação futura — é a bênção principal e fundamental do Evangelho. A justificação é a bênção principal porque vem ao encontro da necessidade espiritual mais importante. Todos nós, por natureza, estamos sob a condenação de Deus; sua lei nos condena; a culpa nos atormenta tornando-nos inquietos, miseráveis e temerosos nos momentos de lucidez; não temos paz em nós mesmos, por não termos paz com nosso Criador. Assim, precisamos do perdão de nossos pecados e da segurança do retorno à comunhão com Deus mais que qualquer outra coisa no mundo; e isto o Evangelho nos oferece antes de tudo. O primeiro sermão pregado, registrado em Atos, leva-nos à promessa do perdão dos pecados para todos os que se arrependem e recebem Jesus como Salvador e Senhor.

Em Romanos, a mais completa exposição do evangelho de Paulo — "o evangelho mais claro", para a mente de Lutero —, a justificação pela cruz de Cristo é exposta em primeiro lugar (caps. 1 a 5), sendo a base de tudo o mais. Paulo fala regularmente sobre a justificação, remissão dos pecados e justiça como a primeira e imediata conseqüência da morte de Jesus (Rm 3:22-26; 2Co 5:18-21; Gl 3:13,14; Ef 1:7 etc). Por ser a justificação a bênção principal, ela é também a bênção fundamental, no sentido de que tudo o mais em nossa salvação se apropria e depende dela, incluindo a adoção. Mas isto não quer dizer que a justificação seja a mais alta bênção do Evangelho. A adoção é maior por causa da riqueza do relacionamento com Deus que ela envolve. Alguns livros sobre doutrina cristã tratam a adoção como simples subdivisão da justificação, mas isso não é apropriado. As duas idéias são distintas e a adoção é a mais sublime. A justificação tem conotação forense, concebida em termos da lei, tendo Deus por juiz. Na justificação, Deus declara que os cristãos penitentes não são e nunca serão sujeitos à morte merecida por seus pecados porque Jesus Cristo, mediante a substituição e o sacrifício, provou a morte na cruz no lugar deles.

Esta dádiva de resgate e paz, a nós doada à custa do Calvário, é suficientemente maravilhosa em sã consciência, mas a justificação não implica um relacionamento íntimo e profundo com Deus, o juiz. Em teoria, pelo menos, você pode ter a realidade da justificação sem que disso resulte nenhum relacionamento mais chegado com Deus.

Agora compare isso com a adoção. Adoção sugere a idéia de família, concebida em termos de amor, e vendo a Deus como pai. Na adoção, Deus nos recebe em sua família e comunhão e nos estabelece como filhos e herdeiros. Intimidade, afeição e generosidade são os pontos altos desse relacionamento. Estar bem com Deus, o juiz, é uma grande coisa, mas ser amado e protegido por Deus, o Pai, é algo muito maior. Este ponto nunca foi tão bem colocado como no seguinte extrato de A doutrina da justificação, de James Buchanan: De acordo com as Escrituras, o perdão, a aceitação e a adoção são privilégios distintos, um surgindo do outro na ordem em que foram citados [...] ao passo que os dois primeiros pertencem propriamente à justificação (do pecador), por estarem os dois fundamentados na mesma relação, a de Governante e Súdito — o terceiro é radicalmente distinto deles por estar fundamentado no relacionamento mais chegado, mais suave e mais duradouro — que há entre Pai e Filho [...] Há uma manifesta diferença entre a posição de um servo e a de um amigo, e também entre a de um servo e de um filho [...] Uma intimidade mais chegada e mais envolvente que a existente entre o senhor e o servo prevalece entre Cristo e seu povo. "Já não os chamo servos, porque o servo não sabe o que o seu senhor faz. Em vez disso, eu os tenho chamado amigos" (Jo 15:15); consta que um relacionamento mais chegado e caro existe em conseqüência da adoção; pois, "você já não é mais escravo, mas filho; e, por ser filho, Deus também o tornou herdeiro" (Gl 4:7). O privilégio da adoção pressupõe perdão e aceitação, mas é maior que os dois, pois "a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder", não força interior, mas autoridade, direito ou privilégio "de se tornarem filhos de Deus" (Jo 1:12). Este é um privilégio maior que a justificação, pois está fundamentado em um relacionamento mais chegado e mais duradouro. "Vejam como é grande o amor que o Pai nos concedeu: sermos chamados filhos de Deus" (1Jo 3:1). Não percebemos perfeitamente a maravilha da passagem da morte para a vida que tem lugar no novo nascimento até que a vejamos como uma transição, não apenas da condenação para a aceitação, mas da escravidão e do desamparo para a "segurança, certeza e alegria" da família de Deus. Esta é a visão da grande mudança que Paulo estabelece em Gáiatas 4:1-7, fazendo o contraste entre a vida anterior de seus leitores, vida de escravidão ao legalismo e superstição na religião (v. 3,5,8), com o conhecimento atual deles do Criador como Pai (v. 6) e benfeitor segundo a promessa (v. 7). Foi a isso, diz Paulo, que a sua fé em Cristo os conduziu; vocês receberam "a adoção de filhos" (v. 5); você não é mais "escravo, mas filho; e por ser filho, Deus também o tornou herdeiro" (v. 7). Quando Charles Wesley encontrou a Cristo no domingo de Pentecos-tes de 1738, sua experiência se extravasou em alguns versos maravilhosos nos quais a transição de escravo para filho é o tema principal:

Onde minha alma surpresa começará?

Como poderei eu aspirar ao céu?

Um escravo redimido da morte e do pecado

Um tição arrancado do fogo eterno

Como exaltarei suficientemente

ou cantarei louvores ao meu grande Libertador?

Como falarei da bondade

Que tu, ó Pai, me tens mostrado?

Eu, um filho da ira e do inferno,

ser chamado de filho de Deus,

saber e sentir meus pecados perdoados.

Abençoado com este antepasto do céu!

Três dias mais tarde, como Charles narra em seu diário, seu irmão John irrompeu com um "grupo de amigos nossos" para anunciar que ele também era agora cristão, e "cantamos o hino com grande alegria". Se você estivesse lá poderia com sinceridade ter-se juntado ao grupo? Você faria suas as palavras de Wesley? Se for um verdadeiro filho de Deus, e "o Espírito de seu Filho" estiver em você, as palavras de Wesley já terão encontrado eco em seu coração; mas se elas o deixaram frio, eu não sei como você pode pensar que é realmente cristão.

Mais uma coisa deve ser acrescentada para mostrar quão grande é a bênção da adoção: esta é a bênção que permanece. Atualmente os peritos sociais nos inculcam que a unidade familiar precisa ser estável e segura e que qualquer instabilidade no relacionamento entre pais e filhos pode produzir tensão, neuroses e até mesmo atrasar o desenvolvimento da criança. A depressão, a inconseqüência e a irritabilidade que marcam as crianças saídas de lares desfeitos são bem conhecidas de todos.

Isso não acontece na família de Deus. Nela você tem absoluta estabilidade e segurança, o pai é totalmente sábio e bom, e a posição do filho é permanentemente assegurada. O próprio conceito de adoção é em si mesmo prova e garantia da preservação dos santos-, pois somente os maus pais expulsam seus filhos da família, mesmo sob provocação. Deus não é mau pai, mas, ao contrário, é muito bom. Quando se observa depressão, inconseqü-ência e imaturidade nos cristãos não se pode deixar de pensar se eles realmente aprenderam o hábito saudável de se apoiar na segurança permanente dos filhos de Deus.

Adoção: a base de nossa vida

Nosso segundo ponto sobre adoção é que toda a vida cristã precisa ser entendida nos termos dessa adoção. A filiação deve ser a idéia determinante, talvez a categoria normativa em todos os sentidos. Isto resulta da natureza do caso e é admiravelmente confirmado pelo fato de todos os ensinamentos de Jesus sobre o discipulado cristão serem expressos nesses termos.

É claro que, como Jesus sempre pensou em si mesmo como Filho de Deus em sentido único, ele também pensava em seus seguidores como filhos de seu Pai celestial, membros da mesma família que ele. No início de seu ministério ouvimo-lo dizer: "Quem faz a vontade de Deus, este é meu irmão, minha irmã e minha mãe" (Mc 3:35).

Dois evangelistas registram como ele, depois da ressurreição, chamou seus discípulos de seus irmãos: "As mulheres saíram [...] foram correndo anunciá-lo aos discípulos [...] De repente, Jesus as encontrou [...] Então Jesus lhes disse: 'Não tenham medo. Vão dizer a meus irmãos que se dirijam para a Galiléia; lá eles me verão'" (Mt 28:8,9,10). "Vá, porém, a meus irmãos e diga-lhes: Estou voltando para meu Pai e Pai de vocês, para meu Deus e Deus de vocês. Maria Madalena foi e anunciou aos discípulos [...] E contou o que lhe dissera" (Jo 20:17,18).

O escritor aos Hebreus nos assegura que o Senhor Jesus considera irmãos aqueles por quem morreu e que foram feitos seus discípulos. "Ele diz: 'Proclamarei o teu nome a meus irmãos [...]' Novamente ele diz: 'Aqui estou eu com os filhos que Deus me deu'" (Hb 2:12,13). Assim como nosso Criador é também nosso Pai, nosso Salvador é nosso irmão quando entramos na família de Deus.

Então, assim como o conhecimento de sua filiação ímpar determinou-lhe a vida na terra, Jesus insiste em que o conhecimento de nossa adoção também deva determinar nossa vida. Isto pode ser observado muitas e muitas vezes em seus ensinamentos, mas em nenhum lugar está mais claro que no Sermão do Monte. Muitas vezes chamado a carta-patente do reino de Deus, este sermão poderia ser igualmente descrito como o código da família real, pois a idéia da filiação do discípulo de Deus é fundamental em todas as principais questões sobre obediência cristã abordadas no Sermão. Vale a pena mostrar isso em detalhes, especialmente porque este ponto é raramente exposto com o peso que lhe é devido.

Conduta cristã

Primeiro, a adoção aparece no Sermão como a base da conduta cristã. Muitas vezes se fala que o Sermão ensina a conduta cristã não porque apresente um esquema completo de regras e uma casuística detalhada para ser seguida com precisão mecânica, mas porque indica de modo geral e amplo o espírito, a direção e os objetivos, princípios e ideais diretivos, pelos quais o cristão deve dirigir sua trajetória. Ressalta-se constantemente que se trata de um código de ética de liberdade responsável, bem diferente do tipo de instrução do consultor de impostos, que era o recurso dos legistas e escribas judeus nos dias do Senhor.

O que em geral menos se observa é que se trata precisamente do mesmo tipo de instrução moral que os pais sempre tentam dar aos filhos: concreta, imaginativa, que ensine princípios gerais a partir de exemplos particulares e que procure durante todo o tempo levar os filhos a apreciar e compartilhar as atitudes e pontos de vista dos pais. A razão por que o Sermão tem esta qualidade não deve ser buscada muito longe: é por ser na realidade a instrução dos filhos de uma família — a família de Deus. Esta orientação básica é dada por meio de três princípios gerais de conduta que nosso Senhor apresenta.

O primeiro é imitar o Pai: "Mas eu lhes digo: Amem os seus inimigos [...] para que vocês venham a ser filhos de seu Pai que está nos céus [...] Portanto, sejam perfeitos como perfeito é o Pai celestial de vocês" (Mt 5:44,45,48). A conduta dos filhos deve retratar a família. Jesus aqui está dizendo: "Sejam santos, porque eu sou santo" — e falando isso em termos familiares.

O segundo princípio é glorificar o Pai: "Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus" (5:16). É muito bom que os filhos se orgulhem de seus pais, que queiram que outros vejam quão maravilhoso ele é e procedam com cuidado em público de modo a dar-lhe crédito. Assim também os cristãos, diz Jesus, devem procurar agir entre as pessoas, ou seja, de tal maneira que seu comportamento produza louvor ao Pai que está no céus. A preocupação constante deve ser a que ele lhes ensinou no princípio de suas orações: "Pai nosso [...] Santificado seja o teu nome" (6:9).

O terceiro é o de agraciar ao Pai. No capítulo 6, versículos 1 a 18, Jesus se refere à necessidade de ter por único objetivo agradar a Deus no que diz respeito à religião, e assim estabelece esse princípio: "Tenham o cuidado de não praticar suas 'obras de justiça' diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial" (6:1). Tal "recompensa" não é com certeza inte-resseira, mas será uma recompensa dentro da família, um toque de amor especial como uma surpresa que os pais gostam de fazer aos filhos quando estes demonstram esforço especial para agradá-los. O propósito da promessa de recompensa do Senhor (6:4,6,18) não é nos levar a pensar em termos de salário e permuta, mas simplesmente para nos lembrar de que nosso Pai celestial notará e mostrará prazer especial quando concentrarmos nossos esforços em agradá-lo, e somente a ele.

A ORAÇÃO CRISTÃ

Segundo, a adoção aparece no Sermão como a base da oração cristã: "Vocês orarão assim: 'Pai nosso [...]'" (Mt 6:9). Jesus sempre orou a Deus chamando-o Pai (abba em aramaico, uma palavra íntima, usada na família); seus seguidores também devem fazê-lo. Jesus podia dizer ao Pai: "Eu sei que sempre me ouves" (Jo 11:42), e ele quer que seus discípulos saibam que, como filhos adotivos de Deus, o mesmo lhes ocorre. O Pai está sempre à disposição de seus filhos e nunca está preocupado demais que não possa ouvir o que eles têm a dizer. Esta é a base da oração cristã. Duas coisas se seguem, de acordo com o sermão do Monte. Primeira, a oração não deve ser mecânica nem impessoal, como se fosse uma técnica para pressionar alguém que de outro modo não lhe dará atenção: "E quando orarem, não fiquem sempre repetindo a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão ouvidos. Não sejam iguais a eles, porque o seu Pai sabe do que vocês precisam, antes mesmo de o pedirem" (Mt 6:7,8). Segunda, a oração deve ser livre e ousada. Não devemos hesitar em imitar o sublime "descaramento" da criança que não tem medo de pedir qualquer coisa a seus pais porque sabe que pode contar completamente com o amor deles. "Peçam, e lhes será dado [...] Pois todo o que pede, recebe [...] Se vocês, apesar de serem maus, sabem dar boas coisas aos seus filhos, quanto mais o Pai de vocês, que está nos céus, dará coisas boas aos que lhe pedirem!" (7:7-11).

Nosso Pai no céu, na verdade, nem sempre responde às orações de seus filhos nos moldes em que são oferecidas. Às vezes pedimos coisas erradas! É prerrogativa divina dar o que é bom, coisas das quais temos necessidade. Se, em nossa ignorância, pedimos o que não tem essa prioridade, Deus, como qualquer bom pai, reserva-se o direito de dizer: "Não, isso não! Não seria bom para você; receba isto que é melhor!". Os bons pais jamais ignoram as palavras dos filhos, nem desprezam seu sentimento de necessidade. Deus também não. Entretanto, não raro, ele nos dá o que deveríamos ter pedido em lugar do que pedimos de fato.

Paulo pediu ao Senhor Jesus que, pela graça, removesse seu espinho na carne. E o Senhor respondeu com a graça, deixando que esse espinho permanecesse, fortalecendo Paulo para viver com ele (2Co 12:7). O Senhor sabe o que é melhor! Sugerir que, por ter sido essa a resposta, a oração de Paulo não foi respondida seria inteiramente errado. Aqui está uma fonte de esclarecimento para o que é chamado erroneamente "a questão da oração não-respondida".

A VIDA DE FÉ

Terceiro, a adoção aparece no Sermão do Monte como a base da vida de fé — isto é, a vida de confiança em que Deus proverá as necessidades materiais quando se busca seu reino e sua justiça. Creio ser desnecessário ressaltar que se pode ter uma vida de fé sem renunciar a um emprego lucrativo — alguns, sem dúvida, são chamados a fazê-lo, mas tentar isso sem orientação específica não seria fé, e sim tolice — e a diferença é grande!

Todos os cristãos são chamados à vida de fé, no sentido de obedecer a Deus a qualquer custo, confiando-lhe as conseqüências. Todos, porém, são tentados, cedo ou tarde, a colocar sua posição e segurança, em termos humanos, em plano superior à lealdade ao chamado de Deus. Então, quando resistem a essa tentação, são levados a se preocupar com o provável resultado de sua atitude, como aconteceu com os discípulos a quem o Sermão foi primeiramente pregado e também tem acontecido com muitos desde então. Tal preocupação ocorre quando seguir Jesus os obrigou a desistir de parte da segurança ou prosperidade que de outra forma poderiam desfrutar. Para estes, portanto, tentados na vida de fé, Jesus traz a verdade de sua adoção.

"Não se preocupem com sua própria vida", diz o Senhor, "quanto ao que comer ou beber; nem com seu próprio corpo, quanto ao que vestir" (Mt 6:25). Alguém poderá objetar: "Isto não é ser realista. Como posso deixar de me preocupar quando enfrento isto, isso e aquilo?". Ao que Jesus responde: "Sua fé é muito pequena. Você se esqueceu de que Deus é seu pai?". "Observem as aves do céu [...] o Pai celestial as alimenta. Não têm vocês muito mais valor do que elas?" (v. 26).

Se Deus cuida dos pássaros, dos quais ele não é pai, não está claro que ele certamente cuidará de você, de quem ele é Pai? O ponto central está positivamente nos versículos 31 a 33: "Portanto, não se preocupem, dizendo: 'Que vamos comer?', ou 'Que vamos beber?' [...] o Pai celestial sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus [do Pai] e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas".

"Podemos sofrer um acidente", disse ansiosamente uma menina, à medida que o carro da família se desviava no meio do tráfego intenso. "Confie no papai, ele é um bom motorista", disse a mãe. A menina sentiu-se segura e imediatamente se acalmou. Você confia dessa maneira no seu Pai celestial? Caso contrário, por que não? Essa confiança é vital; é na realidade a mola principal da vida de fé, sem a qual ela se torna apenas uma vida de incredulidade parcial.

  • Digg
  • Del.icio.us
  • StumbleUpon
  • Reddit
  • RSS