2 Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
3 Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido.
4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa.
5 Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos.
6 Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.
A Porta de Entrada aos Salmos
Os salmos 1 e 2 são o prólogo (começo), prefácio ou introdução do Saltério. Já o Salmo 150 é seu epílogo (final) ou conclusão. Desta maneira o prólogo (1) dos Salmos aborda o caráter do justo em relação com a Lei e a entronização universal do Justo Messias (2), já o epílogo (150) é uma doxologia (uma convocação universal para adorar a Deus).
Este salmo didático ou sapiencial prepara o leitor para que esteja alerta diante dos falsos adoradores, fazendo um contraste entre dois caminhos:
O caminho bem-aventurado dos justos (1-3) e o caminho de condenação dos ímpios (4-6).
Não há outro caminho. Em forma alternada, os salmista descreve aos ímpios (1, 4-5a), aos justos (2, 3, 5b) e contrasta os dois (1 e 2), usando dois símiles (3 e 4) e mostrando dois destinos (5 e 6). O justo é bem-aventurado, porque ele escolheu ter uma relação vital e vitoriosa com Deus, relação que se manifesta por meio da fé (Sl 2.12; 34.8; 84.5; 144.15; 146.5) e a obediência aos mandamentos do Senhor (YAHWEH) recebendo assim abundantes bênçãos (1-3; compare com Mt 5.3-13).
O ímpio, pelo caminho que elegeu não se susterá no juízo nem poderá resistir a ira justa de Deus quando for julgado (Sl 4-6; compare com Sl 76.7; 130.3; Ml 3.2: Mt 13.24-30; 2Ts 1.5-10; Ap 6.17).
O caráter e condição, e o destino presente e futuro dos piedosos e dos ímpios se descrevem e se contrastam neste salmo, ensinando que a verdadeira piedade é a fonte da felicidade humana, e o pecado é a raiz da miséria dos homens. Como tal este salmo é o resumo de todo o Saltério e ainda da mesma Escritura.
Este salmo é pequeno e simples, mas preciso e precioso apresentado suas verdades teológicas de forma meiga, e sublime para os justos rumo à felicidade. Aqui se denuncia o estilo de vida dos homens perversos e a índole santa e piedosa dos justos.
O Caráter do Justo
Este Salmo é sapiencial, pois ensina o secreto e caminho da felicidade:
1 Bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores.
1. A Felicidade do justo repousa naquilo que ele não faz:
· O Justo não anda no conselho dos ímpios (ele rejeita a teoria do mal: ele não planeja).
· O Justo não se detém no caminho dos pecadores (ele rejeita a prática do mal: ele não executa).
· O Justo não se assenta na roda dos escarnecedores (ele rejeita o descanso do mal: ele não zomba).
Note que o homem sem Deus é chamado ímpio, pecador e escarnecedor o que mostra sua degeneração, pois ele possui uma natureza depravada, um agir profano e um debochar blasfemo e no seu coração, mão e boca não há lugar para a reflexão, remorso e arrependimento.
Observe que existe um progresso no processo do mal, o qual é rejeitado pelo justo e desaprovado por Deus, assim o final do homem sem Deus é longe da felicidade.
As “bem-aventuranças” são exclamações de gozo que declaram felizes ou ditosos a uma pessoa ou a um grupo de pessoas, umas vezes pelo que são (os pobres, Lc 6.20), outras pelo que fazem (os pacificadores, Mt 5.9) e ainda pelo que não fazem (não anda no conselho dos ímpios, Sl 1.1). As “bem-aventuranças” são uma forma característica dos escritos sapienciais (Pr 14.21; 16.20; 20.7; 28.14; 29.18), que também aparece nos Salmos (2.12; 32.1-2; 34.8; 41.1; 84.4-5,12; 112.1; 119.1-2; 128.1), nos evangelhos (Mt 5.3-12) e ainda em Apocalipse (1.3 ).
Bem-aventurado — literalmente, Quão feliz! — ela é uma exclamação de forte emoção, como resultado da meditação e compreensão da Escritura. O uso do termo no plural pode denotar a plenitude e a variedade da felicidade (2Cr 9.7). O termo hebraico אֶשֶׁר (ésher) aplicado ao homem é bem-aventurado e aplicado a Deus é Bendito. O homem que vive segundo a vontade de Deus goza do seu favor e é bem-aventurado, ou seja aprovado por Ele com bênçãos em seu caminhar.
...conselho …caminho …roda — Estes estágios indicam as graduações da maldade, seguindo os princípios, cultivando a cumplicidade e conformando-se permanentemente com a conduta dos ímpios, descritos pelos três termos (ímpio, pecador e escarnecedor), o último dos quais expressa a mais descarada impiedade e degeneração dos homens que vivem de costas para Deus e sua Lei (Sl 26.4-5; Jr 15.17).
2 Antes, o seu prazer está na lei do SENHOR, e na sua lei medita de dia e de noite.
2. A Felicidade do justo repousa naquilo que ele faz:
· O Justo deleita-se na Lei do Senhor (a natureza do justo: Ele encontra prazer no bem da Lei).
· O Justo medita na Lei do Senhor (a disciplina do justo: Ele usa um método para aprofundar no bem da Lei):
1. Medita de dia (no alfa ou início da sua jornada, pela manhã), pedindo fortaleza e direção ao Senhor (sua Coluna de nuvem: descansando na sombra do Onipotente).
2. Medita de noite (no ômega ou fim da sua jornada, pela noite), avaliando o dia e agradecendo ao Senhor (sua Coluna de fogo: habitando no esconderijo do Altíssimo).
O salmista segue o costume piedoso e santo dos seus antepassados, o qual foi ensinado pelo próprio Deus (Js 1.8). Enquanto o ímpio se degenera, o justo se regenera pela Escritura.
...o seu prazer está – Ou ...está sua delicia: A frase no hebraico implica algo mais do que mero prazer ou agrado; é vontade, anelo, adesão gozosa e obediência motivada pelo amor. O justo rejeita o mal em todas suas formas (teórica ou prática) e escolhe o bem da Escritura e por isso é bem-aventurado.
Lei: a palavra hebraica torah (que corresponde ao Pentateuco), traduzida habitualmente por “lei”, significa “instrução” ou “ensino”. Esta “instrução”, que está contida especialmente nos primeiros cinco livros da Bíblia, não é concebida como um conjunto impessoal de mandamentos e preceitos; ela é a Palavra viva de Deus, que sai ao encontro das pessoas para manifestar-lhes sua vontade e conduzir-las pelo caminho do bem e da vida, Sl 19.7-14; 112, 119, 128.
3 Ele é como árvore plantada junto a corrente de águas, que, no devido tempo, dá o seu fruto, e cuja folhagem não murcha; e tudo quanto ele faz será bem sucedido.
3. A Prosperidade do justo:
· Ele é como árvore plantada (a firmeza do justo: suas raízes).
· Junto a correntes de águas (a provisão do justo: sua energia).
· Que, no devido tempo, dá o seu fruto (a fertilidade do justo: sua pontualidade).
· E cuja folhagem não murcha (a perseverança do justo: sua qualidade).
· E tudo quanto ele faz será bem sucedido (a bênção do justo: sua plenitude).
Este salmo foi uma realidade na vida de José, Davi, O Senhor Jesus, Paulo, etc. e deve ser a experiência de cada filho e servo de Deus que medita na Lei do Senhor.
...como árvore plantada — Nos salmos o justo é comparado também a uma oliveira verdejante, Sl 52.8, a uma palmeira e a um cedro, Sl 92.12, assim ele é descrito como alguém cheio de vida, rico, precioso, grande e forte por estar unido a Deus por meio da sua Lei (a corrente de águas). Os profetas também usam esta figura da árvore (Jr 17.7-8).
...plantada — Significa estabelecido, afirmado. O justo está enraizado na presença do Senhor, pois ele não vive longe dele nem da sua vontade, antes está em permanente comunhão com Ele e em plena obediência a sua Lei.
... junto a — Significa sobre e ...corrente de águas — são canais de irrigação ou rios. Nas Escrituras as águas representam a mesma Escritura e elas sempre estão por perto dos homens de Deus (literalmente), assim Elias esteve no ribeiro de Querite, 1Rs 17.3, Eliseu começou seu ministério no Jordão, 2Rs 2.13-14, Ezequiel teve sua visão junto ao rio Quebar, Ez 1.1, Daniel recebeu sua visão junto ao rio Tigre, Dn 10.4 e João esteve em Patmos rodeado das águas do Mar Mediterrâneo. É importante observar o crescimento e aumento das águas que saem do templo na visão de Ezequiel (Ez 47). O clímax desta verdade se entende melhor nas profecias de Isaías e Habacuque:
Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte; porque a terra se encherá do conhecimento do Senhor, como as águas cobrem o mar. Is 11.9.
Pois a terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar. Hb 2.14.
O que será uma realidade no Milênio quando Cristo reinar, então desde Jerusalém o ensino da Palavra saíra para todas as nações como águas cristalinas (Is 2.3).
...dá o seu fruto — O justo cresce e amadurece na presença de Deus. José teve dois filhos no Egito, Manassés e Efraim, o primeiro nome significa esquecer e o segundo frutificar. José sendo justo e piedoso ele esqueceu e perdoou o que seus irmãos fizeram com ele e assim frutificou em terra estranha tornando-se governador no Egito, da mesma forma a Palavra de Deus nos consola, fortalece, dá esperança e nos ajuda a frutificar em meio à aflição como aconteceu com José.
...será bem sucedido — Significa prosperará, isto é levará à perfeição seus planos e atividades. O crente fiel é abençoado em todos os seus empreendimentos pelo Senhor como mostra da sua aprovação (Dt 28 1-14).
Meditar na Palavra de Deus é discorrer com nós mesmos acerca das grandes verdades nela contidas, com uma íntima aplicação da mente e concentração no pensar para poder obedecer-lha sempre guiados pelo Espírito Santo do Senhor. Nesse processo o crente neutraliza a degeneração e é regenerado pela Palavra para crescer na graça e no conhecimento do Senhor.
Devemos referir-nos constantemente à Palavra de Deus como regra de nossas ações, e fonte de nosso consolo; e devemos de tê-la em nossos pensamentos noite e dia. Com este propósito não há momento que não seja oportuno. Isaías menciona que os pensamentos do homem não são os pensamentos de Deus (Is 55.8), mas quando o justo medita, então os pensamentos divinos passam a ser os seus.
4 Os ímpios não são assim; são, porém, como a palha que o vento dispersa.
4. A Experiência presente dos injustos:
· Os ímpios não são assim (desaprovação dos injustos).
· São, porém, como a palha (insignificância dos injustos).
· Que o vento dispersa (instabilidade dos injustos).
Note o contraste entre o justo e o ímpio, enquanto o primeiro está enraizado e firme em Deus, o segundo flutua levado pelo vento do acaso e a desventura.
...não são assim — Os ímpios não são como os justos tanto em conduta como em felicidade.
...a palha — O fim dos ímpios é dramático colhendo o fruto da sua impiedade e menospreza da Lei de Deus. Eles terminam errantes e perdidos.
5 Por isso, os perversos não prevalecerão no juízo, nem os pecadores, na congregação dos justos.
5. A Experiência futura dos injustos:
· Por isso, os perversos não prevaleceram no juízo (condenação dos injustos).
· Nem os pecadores, na congregação dos justos (exclusão dos injustos).
Os homens que viveram pecando e rejeitando a Lei do Senhor serão julgados e condenados por ela no juízo futuro. Desta forma nenhum pecador estará em meio ao povo de Deus de todas as idades no reino do Senhor.
...não prevalecerão – Significa Não se levantarão: ou não permanecerão em pé, isto é, não poderão resistir o juízo de Deus. Eles não serão absolvidos do seu pecado (Mt 25.45-46). Note como aparecem os ímpios no verso 1 planejando o mal com vigor, executando-o com crueldade e debochando dele com perversidade , já aqui eles estão paralisados diante do Juiz do Universo.
6 Pois o SENHOR conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá.
6. Onisciência do Senhor:
· Pois o Senhor conhece o caminho dos justos (reconhecimento dos justos).
· Mas o caminho dos ímpios perecerá (fim dos injustos).
Enquanto os ímpios são julgados, condenados e excluídos, os justos são aprovados e reconhecidos pelo Senhor. Note que o salmo começa mencionando o florescente caminho dos pecadores e termina com esse caminho dos pecadores murchando e perecendo, enquanto o caminho dos justos floresce e subsiste.
...conhece — O verbo conhecer se usa muitas vezes na Bíblia para referir-se a uma relação pessoal estreita e inclusive muito íntima (Mt 11.27; Jo 10.14-15). Desta forma o Senhor conhece os seus e os atende e defende (Sl 101.6; Pr 12.10; Os 13.8).
O Senhor é bom, uma fortaleza no dia da angústia; e conhece os que nele confiam. Na 1.7.
Este breve salmo 1 é uma pequena porta para o saltério, lá na frente outra porta maravilhosa se abrirá, o salmo 19 para mostrar a grandeza das Escrituras e ainda haverá uma porta maior e mais gloriosa que continuará com a temática do salmo 1 e 19, mostrando a relação inesgotável entre o justo e a Escritura, essa porta dourada é o salmo 119.
A exposição das tuas palavras dá luz; dá entendimento aos simples. Sl 119.130.
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